Dentre as discussões que vêm ocorrendo no âmbito do curso "A vida secreta dos objetos: tecnologia, cognição e materialidades da comunicação", ministrado conjunta e colaborativamente por Erick Felinto (UERJ), Fernanda Bruno (UFRJ) e Simone Pereira de Sá (Uff), parece-me que uma das mais interessantes diz respeito à permanência de certa centralidade do sujeito no interior de epistemologias emergentes, que procuram dar conta disso mesmo que dá nome ao curso: a vida secreta dos objetos.
Esta semana recebi um vídeo que, a partir das leituras que fizemos até agora, pareceu-me digno de nota. Trata-se do curta-metragem de animação El Empleo, do argentino Santiago Bou Grasso, onde vemos humanos desempenhando funções e mimetizando a forma dos objetos, em uma crítica de relações de trabalho que me pareceram tipicamente modernas (o que o filme apresenta talvez esteja na gênese do capitalismo cognitivo e do trabalho imaterial) . Tanto a objetualização dos sujeitos (na crítica do trabalho) quanto a humanização dos objetos (na crítica dos objetos técnicos) parecem constituir procedimentos recorrentes na indústria cultural. Isto viria reforçar, à luz dos embates que os textos de Benjamin e Shaviro desencadearam, a dificuldade de ultrapassagem do antropomorfismo, mesmo quando o ponto de partida é anti-antropocêntrico.
O filme de Bou Grasso, apesar de seu antropomorfismo (e talvez por isso mesmo!), deixa algumas pistas interessantes, que podemos seguir ao refletir sobre este pensamento não-hermenêutico dos objetos. Esboço abaixo, apressadaments, algumas questões:
1) qual a diferença entre objeto e matéria? a concepção de um sujeito que é corpo (matéria) teria a potência de redimir um "antropomorfismo mínimo" de sua vinculação histórica ao antropocentrismo?
2) a instrumentalidade do objeto como dimensão indissociável de fato, mas distinta por natureza de sua materialidade seria um obstáculo na formulação de uma teoria não-hermenêutica dos objetos?
3) como pensar a relação dos objetos entre eles (o capacho para existir como capacho, entra em relação com abajour, mesas, cadeiras, táxis etc) para além de nossa relação com eles?
Enfim, as pulgas vão se reproduzindo, a cada aula, em progressão geométrica!
Olá Icaro,
ResponderExcluirFaço mestrado em artes cênicas pela UNESP e minha pesquisa está focada no teatro de objetos. Seu texto toca em questões referentes à minha pesquisa e gostaria de saber mais informações sobre esta disciplina que você está cursando. Você cita Benjamin e Shaviro. Quais são os textos/livros?
Agradeço se você puder compartilhar essas informações!
Um abraço,
Flávia D'ávila.
Oi Flávia,
ResponderExcluirtudo bem?
O texto do Shaviro é o "The Universe of Things" (retirado de seu blog, em http://www.shaviro.com/Blog/?p=893), já o do Benjamin é “Sobre a Linguagem em Geral e Sobre a Linguagem dos Homens” (em Escritos sobre Mito e Linguagem. São Paulo: Duas Cidades, 2011).
Se você quiser, posso enviar o programa do curso completo e atualizado. me escreve em vidal.icaro@gmail.com
abço,
Icaro